terça-feira, 2 de novembro de 2010

Florindo & Costa - Recordações Vivas III

Nos meus tenros 8 anos de idade era visita assídua à residência do meu avô, bonita, todas aquelas linhas curvas que  a caraterizavam, delicadas e irregulares, com decoração de interiores em azulejos num estilo próprio. Questionava o meu avô como era viver num autêntico Castelo, tudo era perfeito, desde os mosaicos e calçadas interiores, toda uma mistura de materiais que nos envolviam.Que "Belle époque"! Ficava deslumbrado, pretendia fazer alguma coisa para participar ativamente na conservação daquele espaço, projetado no início do Séc.XX, precisamente em 1902, por Ernesto Korrodi, e como tarefa atribuída era varrer o chão daquele interior único, atividade corrente de todos nós, questionei o meu avô quem era esse homem que pensou este palácio? Continuei a varrer. Respondeu-me que era um Arquitecto Suíço que se tinha naturalizado Português, que tinha lecionado na Escola Domingos Sequeira na disciplina de Desenho, em finais do séc XIX. Estava na parte final do espaço destinado a varrer e a arrumar, fiquei simplesmente curioso, e perguntei, mas tudo isto é de sua autoria? O meu avô transmitiu-me o amor que este homem tinha por Leiria, e que muitas outras coisas tinha feito, desde a restauração do Castelo de Leiria, como ainda da Igreja Matriz de Sta. Catarina da Serra. Continuei a varrer, admirável, querido avô, todo este trabalho que nós Leirienses nos orgulhamos. Mas qual seria a sua fonte de inspiração? A dúvida permanecia no meu interior! Meu querido neto, esta inspiração vem de um estilo a que nós chamamos Arte Nova (Art Nouveaux em Francês), continuava o meu avô a sua história, que também influenciou as artes plásticas, valorizando todo o trabalho artesanal. Tinha terminado de varrer, e percebi o verdadeiro significado e o amor do meu pai pelo trabalho artesanal, num estilo muito parecido com este, numa verdadeira história da arte no domínio da encadernação. Seria esta influência que o atingiu com a vivência naquele espaço? Notava que o meu pai e tio na encadernação tinham uma fonte inesgotável de inspiração, algo que nos transmitia movimento, e usavam um estilo artístico a que chamavam Vitoriano. E como era belo também o seu trabalho, teriam sido estas histórias que os incentivaram no abraçar da profissão? Uma coisa é certa, nada, mas nada se me varre do pensamento!

Carlos Simões

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