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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

DIÁRIO DE LEIRIA - EDIÇÃO DE 02/11/2010 - Artigo: "Recordações Vivas II - "Era esta a minha cidade! ..É esta a minha cidade!.."

 Edição do "Diário de Leiria" - 02/11/2010
 Rubrica: FALA O LEITOR
 
Pelos claustros da Câmara Municipal de Leiria eu passeava na companhia do meu avô, perguntava-lhe como era  viver em edifício mais belo, de toda uma beleza interior inconfundível, de jardins bem cuidados, tudo, mas tudo ao pormenor. Levava-me pela sua mão a caminhar pela Biblioteca Municipal, envolvia-me em tenra idade no mundo dos livros, descobri o poeta Acácio de Paiva " Minha terra velhinha! Assim te quero....", tomei conhecimento que Eça de Queiroz tinha sido administrador da cidade de Leiria em 1870, onde se instalou na Travessa da Tipografia 13, de Acácio Leitão, poeta de meados séc. XX, "Beira, saltitando montes,...", e fiquei a conhecer as duas nossas grandes referências, Afonso Lopes Vieira "Pinhal do Rei", em que soletrava assiduamente "Catedral verde e sussurrante.....Ai flores, ai flores do Pinhal florido, que vedes no mar?....", e o nosso também grande Francisco Rodrigues Lobo, poemas de amor "Coração, olha o que queres: Que mulheres, são mulheres....", tudo era esplendor, tudo era arte, enriquecidas as obras com o tratamento de mãos de mestres, e questionava o meu avô, seria tudo isto executado na oficina do meu pai, e como era a responsabilidade de tratar de peças tão valiosas? Como elas brilhavam nas estantes da antiga Biblioteca Municipal, existia paixão naquelas pessoas que por ali trabalhavam. Fiquei orgulhoso, e questionei o meu avô de novo, no sentido de explicar-me como um menino um pouco mais velho que eu, de apenas 13 anos, se tinha dedicado à beleza do livro. O meu avô dizia-me: "O teu pai sempre adorou a arte que hoje pratica, nasceu com isto, como de um cordão umbilical que o liga para toda a vida, sinto que no seu percurso pode ser um mestre, e que deixará o seu espólio para outros o apreciarem". Acreditei nas suas palavras, tal era o volume de encadernações que eu vislumbrava de estante em estante. Virei-me para o meu avô e agradeci o magnífico passeio, numa transposição perfeita para o mundo dos sonhos!
Era esta a minha cidade, era esta a arte que eu respirei até aos dias de hoje! É este espólio ou o legado único que se perpetuará de geração em geração! É esta a minha cidade!

Carlos Simões

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